
O bispo emérito da Diocese de Santo André, Dom Nelson Westrupp, reflete nesta quarta-feira, 8 de abril, sobre a aproximação da morte de Cristo Jesus, Servidor fiel do Pai.
Confira o terceiro artigo
Mais e mais se aproxima a morte de Cristo Jesus, Servidor fiel do Pai (cf. Mt 26, 14-25).
O Justo e Inocente conhecerá a traição, o abandono e a solidão…; mas confiante no Pai, em breve exultará de alegria.
Jesus quis passar por esta desumana situação e nos ensinar que o sofrimento a ser enfrentado e suportado ao longo de nossa peregrinação na fé e na esperança passará, sim, passará e, um dia, será eternamente melhor.
Na passagem do Evangelho de ontem, São João punha em evidência a solidão de Jesus. Hoje São Mateus realça o momento íntimo em que os Apóstolos estão à mesa com Jesus para celebrar a Páscoa judaica. Não é difícil imaginar a emoção a dominar os corações dos convivas naquela ceia derradeira.
Na pergunta individual feita pelos Apóstolos a Jesus, isto é, se são eles os traidores, transparecem sentimentos dignos de louvor. Em primeiro lugar, o sentimento de tristeza diante do Amigo e Mestre que sofre e talvez irá morrer. O segundo sentimento é de humildade. Consideram-se capazes do melhor e do pior. Não irão à traição, mas à negação, à fuga covarde. Apenas João não fizera a pergunta a Jesus, e com razão: tinha a sua cabeça reclinada no Coração do Mestre, onde se sentia com forças suficientes para não trair nem renegar e muito menos abandonar Jesus. Ao contrário, permanece ao pé da cruz com a sua e nossa Mãe.
Outro sentimento louvável é o de caridade fraterna, quer dizer, se cada um dos Apóstolos se põe a pergunta, se são eles os traidores, é sinal que não desconfiam de ninguém em especial. Não julgam ninguém!
Detenhamo-nos no mistério de Judas. Condená-lo é declarar a nossa condenação. Quem de nós não traz um beijo de Judas que podemos dar a Cristo e aos outros, na hora menos marcada ou pensada?
Diremos também que um crime pode ser o resultado de uma educação deficiente, de um estado de espírito de tal maneira transtornado, que nem sempre se sabe até onde vai a responsabilidade pessoal de tais atos. “Melhor seria que tal homem nunca tivesse nascido!” (Mt 26, 24), disse Jesus e dizemos nós em casos parecidos. Mas na boca de Cristo, e na nossa, esta exressão equivale a lamentar o que se passou, a ter pena do autor desse gesto. Não é ainda uma condenação. Para isso, lá está a justiça humana, que tem meios para essas situações; lá está Deus que conhece os corações…
O fato é que Cristo foi vendido por trinta moedas de prata. Foi o que Judas pediu e recebeu dos chefes dos sacerdotes. Nesse tempo era o preço da compra de um escravo. São Paulo diz que Cristo se humilhou até tomar a condição de escravo. Escravo no preço de “venda”, escravo pela cruz onde O pregaram. Escravo que, pela sua morte por amor, pela sua ressurreição, libertou a humanidade inteira da escravidão do pecado, e fez dela um povo livre de filhas e filhos de Deus.
O sinal do novo Povo de Deus é o pedaço de pão partilhado à mesa e se tornará altar do mundo, onde os corações se encontram e vivem como irmãos e irmãs.
(cf. Pe. J. M. Vaz, C. S. SP. Celebração diária da Eucaristia, Quaresma e Semana Santa, Vol. II, Lisboa, Rei dos Livros, págs. 308-315)
Dom Nelson Westrupp, scj
Bispo emérito de Santo André